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DE&I em 2025: o retrocesso global e os desafios da inclusão na Alemanha

Lívia Rangel
Enquanto empresas multinacionais abandonam iniciativas de DE&I, a Alemanha enfrenta o desafio de promover inclusão em um cenário político cada vez mais polarizado


Em 2025, o cenário global de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) está marcado por uma polarização crescente. Enquanto algumas empresas, como Apple, Siemens e Deutsche Bank, continuam firmes em seus compromissos com a inclusão, outras gigantes globais, como Meta, McDonald's, Amazon e Disney, estão abandonando programas de DE&I. Essa tendência é impulsionada por uma onda conservadora que vê a diversidade e a inclusão como desnecessárias ou até prejudiciais, influenciada por figuras como Donald Trump e Elon Musk.

O retrocesso global: empresas que abandonam a DE&I

A Meta, por exemplo, anunciou em janeiro de 2025 a eliminação de sua equipe de DE&I, encerrando programas de equidade e inclusão e alterando práticas de contratação. Em um memorando interno obtido pela CNN, a vice-presidente de recursos humanos da empresa, Janelle Gale, justificou a decisão citando mudanças no cenário jurídico e político dos Estados Unidos. A Amazon e a Disney seguiram o mesmo caminho, enquanto o McDonald's enfrentou críticas por retrocessos em suas políticas de inclusão.

Essa tendência é um retrocesso alarmante. Um estudo da McKinsey & Company (2023) mostrou que empresas com equipes diversas e inclusivas têm 35% mais chances de superar a performance financeira de seus pares. Além disso, a diversidade étnica e cultural nas equipes executivas está diretamente ligada a uma maior inovação e resiliência em mercados competitivos.

Casos positivos: empresas que resistem

Enquanto algumas empresas recuam, outras seguem firmes em seus compromissos com a DE&I. A Apple é um exemplo notável. Em 2025, a empresa continua investindo em programas de inclusão, como treinamentos em viés inconsciente, mentorias para grupos sub-representados e iniciativas para aumentar a representatividade de mulheres e minorias em cargos de liderança.

Tim Cook, CEO da Apple, afirmou recentemente: "A diversidade é a força que impulsiona a inovação. Não é um custo, mas um investimento no futuro."

Na Alemanha, empresas como a Siemens e a Deutsche Bank também têm se destacado. A Siemens, por exemplo, lançou em 2024 um programa global de inclusão de refugiados, oferecendo treinamento e oportunidades de emprego em suas fábricas. Já a Deutsche Bank ampliou suas metas de equidade de gênero, comprometendo-se a ter 40% de mulheres em cargos de liderança até 2030.


A Deutsche Bank ampliou suas metas de equidade de gênero, comprometendo-se a ter 40% de mulheres em cargos de liderança até 2030.


O cenário alemão: avanços e desafios

A Alemanha tem dado passos importantes na promoção da Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). Um marco recente foi a aprovação da Lei de Autodeterminação com Respeito ao Registro de Gênero (SBGG), que permite que uma pessoa modifique seu nome e sexo no registro civil por meio de uma simples declaração de vontade, eliminando a exigência de um laudo pericial. Essa mudança representa um avanço significativo no reconhecimento dos direitos das pessoas trans e não binárias.

Além disso, a Estratégia Nacional de Integração do governo alemão tem estimulado empresas a incluir imigrantes e refugiados no mercado de trabalho, promovendo a diversidade cultural e a inclusão social. Outro avanço importante foi a implementação da lei de cotas em 2015, que exige que 30% dos assentos nos conselhos de supervisão das maiores empresas sejam ocupados por mulheres. No entanto, essa lei não se aplica aos conselhos executivos, onde a representatividade feminina ainda é baixa.

Apesar dos progressos, os desafios persistem. Um estudo da Agência Federal Antidiscriminação revela que 32% das discriminações ocorrem por razões étnicas ou racistas, 37% devido ao gênero ou identidade de gênero e 7% por motivos religiosos. Esses números mostram que mulheres migrantes e refugiadas estão expostas a múltiplas formas de discriminação.

Um estudo recente da UE Germany revela que apenas 23,7% dos assentos nos conselhos executivos das empresas do DAX 40 são ocupados por mulheres. Enquanto empresas como Siemens Healthineers (50%), Allianz SE (44,4%) e Deutsche Telekom (37,5%) têm alcançado uma representatividade significativa, outras, como Porsche e BMW, ainda registram 0% de mulheres em seus conselhos executivos.

A promoção da Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) na Alemanha é um processo em construção, que exige esforços contínuos e colaborativos entre o setor público, o setor privado e o terceiro setor. Enquanto avanços legislativos e estratégias nacionais abrem caminho para uma sociedade mais inclusiva, a representatividade feminina e a inclusão de grupos sub-representados no mercado de trabalho ainda são desafios urgentes a serem superados.

Em um mundo onde a diversidade é frequentemente questionada, a pergunta que fica é: podemos realmente abrir mão da inclusão em nome de supostas eficiências? A resposta está nos números, nas histórias e no futuro que queremos construir. A diversidade não é apenas um valor moral; é uma necessidade estratégica para um mundo mais justo, inovador e resiliente.



*Lívia Rangel é jornalista, coordenadora de marketing e co-idealizadora do Núcleo de Projetos Especiais na Janainas, além de diretora-fundadora da Agência Lira. Combina sua longa experiência em comunicação estratégica e marketing digital com foco em inclusão social e diversidade cultural.

 
 
 

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